A comunidade da Gleba São João, localizada no município de Porto dos Gaúchos, Mato Grosso, está em estado de alerta após o anúncio do encerramento das atividades da Escola Estadual Renato Spinelli. Fundada em 1985, a escola é responsável por atender alunos do 6º ano em diante. Agora, com o fechamento da instituição, esses estudantes serão transferidos para a Escola Estadual José Cleto, situada a 40 km de distância, em outro distrito. Para muitos, essa mudança significa percorrer até 188 km diariamente, comprometendo o acesso à educação.
O impacto da decisão é severo, sobretudo para os alunos que residem em fazendas distantes. Atualmente, os estudantes já enfrentam longas jornadas para chegar à escola, mas, com essa mudança, o trajeto diário se tornaria insustentável.
A estrada é em grande parte de chão, o que tornaria a ida e volta ainda mais desafiadora, especialmente para os mais jovens.
O Ônibus coleta alunos desde às 04 horas e chega na Escola por volta das 06:45 na época da seca.
História e relevância da escola para a comunidade
A Escola Estadual Renato Spinelli é uma peça central na vida da Gleba São João. Situada a 65 km da sede do município, a escola rural serve a alunos provenientes de diversas localidades, incluindo fazendas, chácaras e sítios da região.
O perfil dos estudantes varia, indo de filhos de agricultores a trabalhadores de empresas e comércios locais. Mesmo com a existência de turmas multisseriadas, a escola tem apresentado bons resultados, alcançando o 11º lugar no ranking do segundo bimestre entre mais de 50 escolas da região, incluindo aquelas localizadas em centros urbanos.
A decisão de encerramento pegou a comunidade de surpresa. Em uma assembleia realizada no dia 16 de outubro de 2024, com a presença de representantes da Diretoria Regional de Educação (DRE) de Juína e do secretário municipal de educação de Porto dos Gaúchos, a proposta foi apresentada. Entretanto, a reunião não foi um diálogo aberto com a comunidade, mas sim uma comunicação unilateral de que a escola seria municipalizada e seus alunos transferidos.
Reações da comunidade e abaixo-assinado
A comunidade não aceitou passivamente a decisão. Durante a assembleia, pais, professores e moradores protestaram contra o fechamento da escola e a transferência dos alunos. Segundo eles, além de aumentar as distâncias percorridas pelas crianças, a mudança colocaria em risco o acesso à educação, em especial para os alunos que já enfrentam dificuldades devido à localização das fazendas e estradas de chão.
O fato de crianças tão jovens, do pré-escolar até o 5º ano, dividirem o mesmo transporte por longas distâncias, foi outro ponto criticado.
Durante a reunião, foi sugerido que a Escola Estadual Renato Spinelli funcionaria como um anexo da Escola Estadual José Cleto no ano de 2025, permitindo que os alunos permanecessem no distrito pelo menos por um ano a mais. No entanto, a falta de garantia de continuidade nos anos subsequentes gerou ainda mais incerteza e revolta entre os presentes.
No calor da discussão, a moradora e líder comunitária Evelin Krieger Ewald anunciou a criação de um abaixo-assinado contra o fechamento da escola, que seria encaminhado ao Ministério Público.
A ação foi bem recebida, e as assinaturas começaram a ser coletadas imediatamente após o encerramento da assembleia.
Impacto nas famílias e na educação local
O possível fechamento da escola e a consequente transferência dos alunos terão impactos profundos não apenas na vida escolar, mas também na dinâmica familiar. Pais preocupam-se com a distância e o tempo que seus filhos passarão fora de casa, além dos riscos adicionais em caso de imprevistos ou emergências, dado o isolamento geográfico da região. As festividades e reuniões escolares, que antes eram momentos de integração comunitária, passariam a ocorrer em outro distrito, dificultando a participação ativa dos familiares e da comunidade local.
A decisão de encerrar as atividades da Escola Estadual Renato Spinelli, segundo os moradores, agrava ainda mais a desigualdade educacional nas áreas rurais de Mato Grosso, privando os estudantes de seu direito constitucional a uma educação de qualidade e próxima de suas residências, conforme estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
Agora, com a coleta de assinaturas em andamento, a comunidade aguarda o apoio das autoridades competentes e espera que a situação seja revista, garantindo a permanência da escola e o acesso contínuo à educação para todas as crianças da região.