Em tempos de eleição, não é incomum testemunhar uma avalanche de acusações e difamações entre candidatos que disputam um cargo público. Mas por que isso acontece? E, mais importante, essa é uma estratégia inteligente para atrair votos?
A reportagem da Rádio tucunaré buscou explicações pautadas em estudos de marketing político para entender esse tipo de comportamento durante as campanhas e o que ele revela.
O Desespero como Motivador
A prática de difamar concorrentes muitas vezes surge de uma posição de desespero. Candidatos que percebem que estão perdendo terreno ou que suas propostas não estão ressoando com o eleitorado podem recorrer a ataques pessoais como uma maneira de tentar desestabilizar seus oponentes. Em vez de focar em suas próprias qualidades ou propostas, optam por diminuir a imagem dos outros na tentativa de parecerem melhores por comparação.
Para tanto, não o fazem de forma direta, se utilizam de seus simpatizantes para disseminar mentiras, distorcer fatos afim de descontruir a imagem de seu oponente e ganhar credibilidade. Acreditam que assim, poderão conquistar a simpatia a confiança dos eleitores.
Esse comportamento é frequentemente interpretado pelos eleitores como um sinal de fraqueza. Quando um candidato recorre à difamação, ele indiretamente admite que não tem mais como convencer com suas próprias ideias e realizações, e que precisa, portanto, diminuir os outros para tentar se elevar.
Estratégia Perigosa
Embora possa haver um efeito imediato de chamar atenção, a difamação carrega riscos significativos. Em primeiro lugar, ela pode alienar eleitores que esperam discussões de alto nível e propostas concretas. Em segundo lugar, a difamação pode ser vista como um reflexo negativo do próprio caráter do difamador, o que pode resultar em perda de credibilidade.
Pesquisas mostram que campanhas negativas, quando não bem dosadas, podem ter o efeito oposto ao desejado.
Um estudo da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, revelou que campanhas excessivamente negativas podem reduzir o entusiasmo dos eleitores e até diminuir a taxa de participação nas urnas. Isso é particularmente perigoso para candidatos que já estão em desvantagem.
Exemplos Reais
Historicamente, diversos casos ilustram os perigos dessa estratégia.
Na eleição presidencial dos Estados Unidos em 1988, o candidato George H.W. Bush lançou uma campanha fortemente negativa contra seu oponente Michael Dukakis. Embora Bush tenha vencido, o impacto a longo prazo foi uma polarização ainda mais acentuada do eleitorado e um aumento na desconfiança em relação à política.
No Brasil, em eleições municipais e estaduais, é comum observar que candidatos que iniciam uma onda de difamação, muitas vezes estão em declínio nas pesquisas e buscam uma maneira de se manterem relevantes.
Um exemplo foi a eleição de 2014 para o governo do Estado do Rio de Janeiro, onde ataques pessoais se intensificaram na reta final, gerando um ambiente político mais tenso e imprevisível, com efeitos negativos sobre a percepção pública de ambos os candidatos envolvidos.
Difamar concorrentes durante uma eleição é uma estratégia que pode trazer notoriedade imediata, mas que, na maioria dos casos, é um reflexo de fraqueza e desespero e isso é percebido por maioria dos eleitores.
Além de potencialmente alienar eleitores, essa abordagem pode manchar permanentemente a imagem do candidato difamador, resultando em uma derrota mais acentuada. Eleições bem-sucedidas são conquistadas com ideias claras, propostas viáveis e respeito ao eleitor, e não com ataques que buscam destruir a imagem alheia.
Referências:
– “The Effects of Negative Political Campaigns: A Meta-Analytic Reassessment,” Vanderbilt University.
– “O Impacto das Campanhas Negativas nas Eleições Brasileiras,” Jornal da Ciência Política, 2016.