Na última quarta-feira, o engenheiro agrônomo e empresário Ricardo Arioli, parceiro da Rádio Tucunaré no programa “Tucunaré Rural”, compartilhou suas análises sobre o Plano Safra 2024/2025 através de um áudio exclusivo.
Ricardo, que apresenta o quadro “Momento Agrícola”, destacou pontos críticos e expectativas não atendidas sobre o novo plano, anunciado com uma semana de atraso em relação à data prevista.
Atraso na liberação, Juros altos e recursos insuficientes
Segundo Ricardo, o atraso na liberação dos recursos poderá dificultar a vida dos produtores, uma vez que os bancos ainda precisarão ajustar suas estratégias para utilizar os recursos oficiais. Ele expressou decepção com o plano, afirmando que ele não atende às expectativas do setor. Os recursos disponibilizados foram considerados insuficientes, e os juros permaneceram elevados, contrariando a expectativa de redução proporcional à taxa Selic, que caiu de 13,75% para 10,5%.
Outro ponto levantado foi a limitação do PRONAMP para médios produtores, que não foi ajustada à realidade atual de preços elevados e aumento dos custos de produção. Ricardo criticou a falta de atratividade dos financiamentos, destacando que a rentabilidade está comprometida pelos altos custos de produção e juros elevados.
Pequenos e médios produtores prejudicados na concorrência de mercado
Ricardo também apontou a diminuição dos recursos oficiais em comparação ao ano anterior, forçando os bancos a mesclar recursos livres com oficiais, resultando em taxas de juros mais altas. Ele destacou o impacto negativo dessa medida, especialmente para investimentos em máquinas agrícolas, mencionando o programa Moderfrota, com juros proibitivos de 11,5%. Essa situação, segundo ele, torna quase inviável para pequenos e médios produtores realizarem investimentos necessários para manter a competitividade.
A análise também abordou a questão do seguro agrícola, ainda sem anúncio oficial, mas essencial para enfrentar os desafios climáticos que afetam a produção. Ricardo comparou o Brasil com países desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, onde os subsídios agrícolas são significativamente maiores, proporcionando um seguro mais robusto e acessível aos produtores. Ele defendeu a implementação de políticas semelhantes no Brasil para reduzir os riscos e, consequentemente, os custos de financiamento.
Expectativas frustradas
A expectativa da CNA era de um plano com R$ 570 bilhões em recursos, mas foram anunciados apenas R$ 400 bilhões, insuficientes para acompanhar a evolução dos custos e o crescimento da produção no Brasil, especialmente no Centro-Oeste. Ricardo ressaltou que esses recursos retornam à economia na forma de produção, emprego, renda e qualidade de vida, uma realidade que parece não ser considerada pelo governo ao elaborar o Plano Safra.
A preocupação está na sustentabilidade do setor agrícola sem um apoio adequado dos recursos oficiais. Ele previu que, em breve, os fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas solicitarão ajuda do governo, devido aos juros elevados que inviabilizam os investimentos necessários.
Ricardo Arioli destacou a importância de um Plano Safra robusto para sustentar o crescimento e a competitividade do agronegócio brasileiro. Ele mencionou que, apesar das dificuldades apresentadas pelo plano atual, o setor agrícola tem mostrado resiliência e capacidade de adaptação. No entanto, ele alertou que essa capacidade tem limites, especialmente quando o apoio governamental não acompanha a evolução do mercado.
Ricardo frisou que o aumento dos preços dos insumos, combinado com a elevação dos custos de produção, cria um ambiente de negócios desafiador para os produtores rurais. A falta de recursos adequados e os juros altos dificultam os investimentos necessários para a modernização das propriedades, o que pode comprometer a produtividade e a eficiência do setor a longo prazo.
Além disso, Ricardo enfatizou a importância de políticas públicas que incentivem a inovação e a sustentabilidade no campo. Ele mencionou que o Brasil tem potencial para se destacar ainda mais no cenário global do agronegócio, mas isso requer um apoio estruturado e consistente do governo. Programas de incentivo à pesquisa e desenvolvimento, subsídios para a adoção de tecnologias sustentáveis e acesso facilitado a financiamentos são fundamentais para garantir a competitividade do setor.
Ele também criticou a falta de uma estratégia clara para a diversificação da produção agrícola. Segundo Ricardo, focar apenas em algumas culturas e mercados pode ser arriscado, especialmente diante das incertezas climáticas e econômicas globais. Ele sugeriu que o Plano Safra deveria incluir medidas específicas para apoiar a diversificação, promovendo a produção de culturas menos tradicionais, mas com alto potencial de mercado.
Arioli concluiu sua análise reiterando a necessidade de um diálogo aberto e construtivo entre o governo e o setor agrícola. Ele defendeu que as decisões relacionadas ao plano safra sejam tomadas com base em dados e evidências concretas, considerando as necessidades reais dos produtores e as condições do mercado. Ele expressou esperança de que, apesar das críticas, o plano safra possa ser ajustado e melhorado ao longo do tempo, para que efetivamente contribua para o fortalecimento do agronegócio brasileiro.
Para finalizar, Ricardo reforçou seu compromisso e o da Rádio Tucunaré em continuar acompanhando de perto as evoluções do setor agrícola e mantendo os ouvintes bem informados sobre as questões que impactam diretamente suas atividades e negócios. Ele agradeceu a todos pela atenção e se colocou à disposição para esclarecimentos adicionais e futuras análises.
Outros pontos importantes
Na continuação de sua análise sobre o Plano Safra 2024/2025, Ricardo Arioli aprofundou-se nos impactos específicos para diferentes segmentos do agronegócio, destacando as consequências práticas das políticas adotadas.
Ele destaca que os pequenos e médios produtores são os mais afetados pela falta de recursos e pelos altos juros. Ricardo mencionou que muitos desses produtores dependem fortemente dos financiamentos oficiais para manter suas operações, e as condições atuais tornam extremamente desafiador obter o capital necessário. A combinação de recursos escassos e juros altos pode levar esses produtores a buscarem alternativas menos favoráveis, como financiamentos privados com juros ainda mais altos, ou até mesmo a desistirem de investimentos cruciais para a modernização e expansão de suas propriedades.
Ricardo também abordou a questão da infraestrutura rural, um ponto frequentemente negligenciado nos planos safra. Ele ressaltou que a infraestrutura é fundamental para a competitividade do agronegócio, afetando desde o transporte de insumos até a comercialização dos produtos. Investimentos em estradas, armazéns e sistemas de irrigação são essenciais para reduzir custos e perdas, além de melhorar a eficiência logística. Ricardo argumentou que o Plano Safra deveria contemplar medidas específicas para incentivar investimentos em infraestrutura rural, promovendo parcerias público-privadas e oferecendo condições favoráveis de financiamento.
Agricultura Familiar
Ele destacou a importância do apoio à agricultura familiar, que desempenha um papel vital na segurança alimentar e na sustentabilidade das comunidades rurais. Ele criticou a falta de políticas mais inclusivas e de programas específicos que atendam às necessidades dos pequenos agricultores. Ricardo sugeriu que o governo deveria criar linhas de crédito diferenciadas e programas de capacitação técnica para apoiar a agricultura familiar, garantindo que esses produtores tenham acesso às tecnologias e práticas mais avançadas.
Meio ambiente
Outro ponto relevante mencionado por Ricardo foi a necessidade de promover a sustentabilidade ambiental no setor agrícola. Ele destacou que práticas agrícolas sustentáveis não só preservam o meio ambiente, mas também podem aumentar a produtividade e a resiliência das propriedades rurais. Ricardo sugeriu que o Plano Safra inclua incentivos para a adoção de práticas sustentáveis, como a agricultura de baixo carbono, o manejo integrado de pragas e a preservação de áreas de vegetação nativa. Ele argumentou que essas medidas podem contribuir para a sustentabilidade a longo prazo do agronegócio brasileiro, além de melhorar a imagem do país no mercado internacional.
Por fim, Ricardo mencionou a importância da inovação e da tecnologia no campo. Ele destacou que o agronegócio brasileiro tem um enorme potencial para se beneficiar de inovações tecnológicas, desde a utilização de drones e sensores para monitoramento de lavouras até a adoção de biotecnologias avançadas. No entanto, para que isso aconteça, é necessário um ambiente favorável à inovação, com políticas públicas que incentivem a pesquisa e o desenvolvimento e facilitem o acesso dos produtores às novas tecnologias. Ricardo sugeriu que o governo crie programas específicos para promover a inovação no campo, incluindo subsídios para startups agrícolas e parcerias com instituições de pesquisa.
Apesar das limitações e desafios do Plano Safra 2024/2025, é possível encontrar caminhos para fortalecer o agronegócio brasileiro. Ele expressou a esperança de que o governo, os produtores e todos os envolvidos no setor possam trabalhar juntos para superar as dificuldades e construir um futuro mais próspero e sustentável para a agricultura no Brasil.